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Jet Car de 10.000 cv chega perto dos 400 km/h no Brasil [túnel do tempo]
Por: Fabio Félix Pascoal / Fotos: Fábio Arantes / Vídeo: Luciano Falconi
Sensação de liberdade pode ser descrita de diversas formas. Porém, ficar amarrado a um minúsculo banco de alumínio, ao lado de uma gigantesca turbina com “meros” 10 000 cv — derivada de um jato da marinha americana —, fixada em um chassi tubular e capaz de atingir os 500 km/h em menos de 6 segundos, poderia ser considerado liberdade? Sim! Ao menos para o empresário Ricardo “Pudim” Bersani, a aparente insanidade é definida como “Uma incrível sensação de liberdade”. E ele acrescenta: “Meu primeiro ano como piloto de arrancada foi em 1996, mesma época em que vieram para o Brasil dois jet cars americanos para uma apresentação no Autódromo Internacional de Curitiba. Achei demais aquele barulho infernal e as gigantescas labaredas provocadas pelo afterburner, mas nem de longe imaginava que um dia estaria sentado em um carro desses”, confessa Pudim.
Desde 1 996 passaram pelas mãos de Pudim diversos bólidos de arrancada, como Saveiro Turbo-A, Gol Força Livre, SS-10 V8 blower, dragster V6 biturbo e dragster V8 blower. Depois de tantas máquinas, o piloto resolveu “libertar” toda essa pressão acumulada em mais de uma década a bordo de bólidos supercomprimidos, partindo para um verdadeiro carro a jato. “A idéia de trazer o ‘jet’ aconteceu ‘por acidente’. Durante o festival de 2005, meu dragster sofreu uma quebra no final da reta com um princípio de incêndio. Após o ocorrido, membros da equipe me apelidaram de ‘Pudim bola de fogo’ (referência ao funk “Bola de Fogo”, de MC Marcinho, que fazia grande sucesso na época). Foi aí que pensei: já que o público adora ver fogo e barulho, um jet car irá fazer um tremendo sucesso”, explica o piloto.
A ideia foi amadurecida pela equipe Powerplus que ajudou Pudim a procurar um jet à venda nos Estados Unidos. “Não foi fácil achar um exemplar zerado ou alguém a fim de se desfazer de um brinquedo desses. Por sorte, encontramos Lou Sattelmaier’s, um xerife aposentado de 80 anos, no estado de Ohio”, conta Pudim. “Um amigo que mora nos EUA havia me dito que o carro estava zerado, mesmo assim fui conferir pessoalmente antes de fechar negócio”, comenta Antônio Luiz de Freitas, o Tonhão, da Powerplus. “Funcionamos o carro no meio da rua, veio até polícia. Quase fomos presos, mas foi bem legal…”, brinca Tonhão.
A estreia do bólido no Brasil não poderia ter sido melhor, pois ocorreu durante a inauguração do Velopark, em 2008. “Quando vi o Tonhão funcionando o carro em cima de um guincho aqui no Brasil, cheguei a me arrepiar com o afterburner. Chegando na pista, em minha primeira puxada virei 9s nos 402 metros. Aos poucos fui ganhando confiança e baixando meus tempos, pois não sabia como largar forte. Só acelerei mesmo depois de o piloto Alejandro Sanchez sentar no jet e, em sua primeira puxada, virar estúpidos 6s4. Pensei: se ele faz, eu também faço!”, confessa Pudim.
A grande preocupação de Pudim e de toda a equipe era descobrir qual a faixa de rotação ideal da turbina no momento da largada. “Começamos largando com 60% da rotação máxima, porém o Alejandro me revelou que o seu temporal tinha sido feito com 100%. Aí não deu outra, fomos por este caminho e os tempos começaram a despencar”, comemora. Acelerar este foguete requer atenção e sangue frio. Para ligar a turbina são utilizadas três baterias externas de caminhão. Ao atingir as 10.000 rpm, os cabos são desconectados e começa o show pirotécnico com o afterburner, com rotação da turbina entre 40 e 60%.
Afterburner, ou simplesmente ‘pós-combustor’, consiste em injetar combustível diretamente no fluxo de escape e queimá-lo usando o oxigênio remanescente. Isso aquece e expande ainda mais os gases de escape e pode aumentar o empuxo de um motor a jato em mais de 50%. No caso dos jatos militares, seu acionamento só se justifica em situações especiais como decolagens em pistas curtas e manobras de combate, pois o consumo de combustível aumenta vertiginosamente.
“Uma das alavancas à minha direita libera combustível no escape, de onde saem as nuvens brancas de fumaça. Ao acionar o botão no volante, é dada uma faísca proporcionando as famosas línguas de fogo. Ao descerem as luzes do pinheirinho, aciono a alavanca de throttle da turbina (o “acelerador”) em 100%, em seguida libero combustível novamente e ‘dou no botão’.”
Mesmo com os dois pés no freio, não tem quem segure o carro, que dispara arrastando as rodas. Nessa hora, uma força brutal cola o piloto contra o banco. Na aceleração durante o percurso, é possível atingir 6 G! “Parece que o carro vai decolar. É esta a sensação de liberdade plena a que me refiro, bem diferente da de um dragster”, revela Pudim.
Para frear o míssil com rodas é acionada mais uma alavanca, de liberação do pára-quedas. Caso o mesmo se incendeie durante a abertura, existe um pára-quedas auxiliar. “É disparado um pára-quedas por vez. Se os dois abrissem ao mesmo tempo, o baixo peso do bólido, somado à alta potência, faria o carro levantar, causando um acidente”, explica o piloto. Mesmo percorrendo o quarto de milha (402 metros) em invejáveis 6s068 a uma velocidade de 385 km/h, Pudim não se deu por satisfeito e tem planos para o futuro.
“Em termos de tempo, nem esperamos baixar muito disso, a meta é ultrapassar a marca de 400 km/h e quem sabe chegar aos tão sonhados 500 km/h. Esta velocidade jamais foi atingida por um carro em território nacional”, planeja o “Top Gun Bola de Fogo” brasileiro.
Ficha Técnica
Carroceria > Ford Probe em fibra de carbono
Chassis > Tubular em aço cromo molibdênio
Motor > Turbina J-60 Pratt-Whitney (motor a jato do North American T-2C Buckeye)
Potência > 10.000 cv
Empuxo > 5.400 lbs sem pós-combustor
RPM > 17.000 rpm a 109%
Consumo > 100 litros por puxada
Combustível > Querosene de aviação
Rodas > Weld Draglite, 15”x10” na traseira e 15”x4” na dianteira
Pneus > Dianteiros Goodyear Nascar 28”x10,5” na traseira e Goodyear ET Front 23”x5”
Freios > Discos perfurados na dianteira e traseira, dois pára-quedas Deist de 14 pés de diâmetro (4,3 m)
Instrumentos > Pirômetro ODG, porcentagem de rotação da turbina, manômetro de óleo
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