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Piggy-back: conheça o sistema que engana o motor e deixa ele mais potente
Enganar é uma palavra forte. Pode nos remeter a algo errado, politicamente incorreto ou até mesmo fora da lei. Ludibriar ou dissimular também não são legais. Que tal “trabalhar em conjunto” ou, no máximo, ratificar? Pois, quer saber? O piggy-back é sim um enganador, dissimulador, ludibriador e ratificador.
O piggy-back é um equipamento que engana a injeção eletrônica do motor, altera os sinais do painel, interfere em atuadores e em tudo mais que tiver fios e sinais elétricos. E, com tantas qualidades, esse sistema é um dos maiores aliados dos preparadores de carros.
É óbvio que, no projeto de um veículo, sobretudo no de um motor, o fabricante quer garantir a qualidade e a funcionalidade do componente a longo prazo e, aproveitando-se das amarraras eletrônicas do sistema, “lacra” o acesso das principais funções e controles da injeção e de seus parentes, como a ignição, a curva do acelerador eletrônico e assim por diante. Com o piggy-back você pode mexer nisso tudo.
Como funciona o piggy-back?
Imagine o sistema de injeção eletrônica do motor como se ele fosse uma empresa. A hierarquia é a seguinte: a ECU (central de comando do motor) é o diretor, os atuadores são os operários e os padrões dentro da normalidade de funcionamento são os seguranças.
Os índices de produtividade, por sua vez, são os sensores do motor (de temperatura, de detonação, de mistura, de posição…). As informações que vêm do propulsor (enviadas pelos sensores) são avaliadas pela ECU. Diante dessas informações, a central de comando orienta os atuadores do motor, assim como o diretor coordena seus funcionários.
E, assim como em uma empresa, qualquer anomalia será avaliada e, às vezes, alertada pelo pessoal da segurança com uma luz acesa no painel, falhas, fechamento da borboleta de aceleração ou, pior, o desligamento do motor.
Agora, imagine que está uma bagunça total na empresa: cerveja, festa, pegação e mesmo assim, tudo está ok! Isso porque, o diretor, que não sabe da “festinha”, continua recebendo os mesmos índices de produtividade de antes. Ele fica achando que está tudo beleza e funcionando certo. Nada de alarmes, de códigos de erros, de seguranças e nem de punição.
A festa no motor rola solta e fica tudo certo. O malandro que passou as informações erradas para enganar o diretor foi o piggy-back. E o pior: este sujeito pode enganar o diretor da empresa, ou no caso do automóvel, a ECU, tanto na hora em que ele recebe as informações, quanto na hora do recado.
O diretor ordena: “Avisa a galera da produção para tirar o pé do acelerador, porque o mercado vai comprar menos este mês”. O piggy-back escuta o chefe e, pacientemente, desce até o chão da fábrica e manda essa: “Turma, o chefe disse para acelerar tudo aí que o mercado tá bombando, vamos trabalhar dia e noite!”.
O piggy-back dá um jeito
Piggy-back é uma gíria em inglês. É tipo uma versão do nosso “jeitinho brasileiro”. O termo falado nos EUA pode ser traduzido como “montado em algo” ou “levando nas costas”. O nome melindroso também é um lembrete de que esse equipamento requer cuidados e estudo antes de manuseá-lo.
Como são vários os fabricantes, é necessário fazer uma pesquisa sobre a real necessidade do motor e avaliar qual é o melhor sistema a ser usado em cada carro. Com toda essa artimanha de enganar o comando do motor, os sinais que chegam à central da ECU e confirmando as ordens da central, o piggy-back é um item fundamental na preparação de veículos, principalmente para quem está começando.
Piggy-back no Brasil
Nos EUA, o piggy-back é oferecido como um kit com tudo pronto: você escolhe um modelo já acertado para o seu motor, instala e ganha os cavalos extras. O resultado é instantâneo.
Mercados mais desenvolvidos na preparação são os maiores exportadores de piggy-back para o Brasil. Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Japão são exemplos de lugares que situam empresas especializadas neste assunto. E algumas delas são tão famosas que já soam familiares para nós, como Haltech, Map ECU, PowerCommander (ícone para as motocicletas), AEM, Unichip e por aí vai. E existem várias pré-programações prontas.
Aqui no Brasil, algumas lojas que oferecem sistemas do tipo são a CarTopCar e a na CPS Auto. Obviamente, aqui no prédio da FULLPOWER você também pode envenenar o motor do seu carro com piggy-back e o que mais quiser. Só dá uma ligada antes, tem fila.
Você quer “x” cavalos a mais no seu Subaru WRX? Trocou as rodas de sua Cherokee SRT e não quer nenhuma luz acesa no painel? Quer esguelar com sua Suzuki Srad 1000 aumentando a potência motor? Inúmeras são as empresas que têm módulos já programados para esses propósitos.
Cuidados ao instalar o piggy-back
Mas, fique ligeiro com essa tentação. Na internet, nos sites das empresas gringas, há todo um roteiro de instalação elétrica (e que às vezes nem é complicado mesmo!), benefícios e até preços atraentes. No entanto, são ferramentas mais focadas para seus próprios mercados, com combustíveis que normalmente não têm nada a ver com o nosso (o etanol de bomba no Brasil e nossa gasolina só existem aqui, com 22% de álcool anidro).
O legal é o uso do piggy-back por aqui como solução para nossos problemas. E para isso, existem os piggy-back sem nenhuma programação. Tem apenas o hardware (conectores, fios, placa…) e o software de funcionamento. Toda a tabela de programação está aberta, ou seja, ela será preenchida pelo preparador, de acordo com a necessidade.
Como tudo que tem controle ou monitoramento eletrônico pode ser alterado com o piggy-back, o preparador pode evitar os códigos de erros de módulos originais (quando se instala, por exemplo, um turbo em um motor originalmente aspirado) ou até interferir, por exemplo, no trabalho dos atuadores, na curva do acelerador eletrônico ou na válvula de três vias que controla a waste-gate do turbo nos propulsores mais modernos.
Alterando os sinais dos sensores e o trabalho dos atuadores, quase tudo fica possível através do equipamento. Mas um aviso: evite o uso do piggy-back já programado para X ou Y aplicação. Não seja vaidoso, nem prepotente ao ponto de desprezar seu preparador no uso do sistema, por mais tentador que possa parecer o anúncio na internet.
Entre a teoria e a prática, há um enorme caminho. E o piggy-back é, sim, o atalho para isso. Mas, deixe seu mecânico quebrar a cabeça com este sujeitinho indolente que engana a injeção, ludibria o motor, bagunça tudo, porém nos deixa muito, mas muito felizes.
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