Publicado em
Cultura
Design: simpatias e implicâncias
Edu Pincigher
Fotos: divulgação
Você já parou para raciocinar sobre o que te agrada efetivamente no design de um carro? Há detalhes sutis que constroem simpatias ouimplicâncias frente a alguns modelos, pelo menos no meu caso. Óbvio que a minha listinha não vai combinar diretamente com a sua, mas espero que você enxergue esse exercício como algo introspectivo – e interessante.
Quer ver algo que me irrita em toda a linha Jeep? Isso só pra dar um preâmbulo do que esse texto vai versar: Renegade, Compass e Commander possuem traços retos no contorno superior dos para-lamas. Pra mim é algo que deixa o design completamente desbalanceado. Caixa de roda tem que ter formato circular. Não se negocia isso. Pneu e roda não são redondos? Desenho de para-lama também tem que ser, ora! As linhas retas são inspiradas no primeiro “General Purpose” (ou GP… o que dá origem à marca Jeep) lá da 2ª Guerra Mundial, ok. Mas e daí? Continuo achando esquisito.
Portas laterais que não têm aquela barra superior para separar as janelas do teto do carro… é algo que também me desagrada. Eu sei que a família Logan/Sandero/Duster foi criada com o propósito de economia na manufatura. Mas poupar essa peça, ter que esticar as portas e emendá-las com o teto… fica feio, não?
Portas laterais que “emendam” com o teto?
Gosto de BMW. E não é pela grade dianteira
Sempre fui fã da proposta estética da BMW. Mergulhando mais a fundo no porquê, descobri que o que me atrai no design da marca não é sua assinatura mais tradicional, isto é, o “duplo rim” da grade dianteira. Acho bonito, ok, mas nunca foi o principal chamariz. O verdadeiro encantamento pelo design da fabricante bávara sempre foi algo de menor expressão, que nem é exclusividade da dita cuja, mas aparece em todos os seus sedãs, cupês, wagons e cabrios: a distância proeminente da caixa de roda dianteira para o gap da porta.
Olha esse mosaico de vários carros que oferecem esse detalhe.
BMW tem uma característica que me agrada: da caixa de roda até o gap da porta.
Mercedes tem, Porsche e Jaguar também. Quem usa tração traseira costuma alocar o eixo dianteiro de seus carros lá na frente, na extremidade, praticamente eliminando o balanço dianteiro. E isso para apoiar o motor em uma posição chamada “central-dianteira”. Esse deslocamento do eixo dianteiro bem para frente cria o espaço que eu gosto tanto. A BMW, porém, capricha. Mas desde que não seja suve. Pra fazer justiça, a primeira geração da X1 era assim, a E84 (2009 a 2015) – não por acaso, a mais bonita de todas. Depois foi paulatinamente diminuindo e agora é tão estreito quanto qualquer outro utilitário-esportivo.
E por que gosto tanto disso? Talvez porque me remeta, intuitivamente, a veículos com tração traseira, frentes mais alongadas, que geralmente escondem motores longitudinais, com muitos cilindros e posicionamento central-dianteiro.
Em um mundo onde a eletrônica monitora e remedia tudo, ainda me dou ao direito de gostar de carros com arquiteturas construtivas mais bem elaboradas, inclusive na distribuição de massas entre os eixos, como é o caso (ideal) de um motor entre eixos ou ainda um central-dianteiro. Hoje qualquer suve tem motorzão transversal pendurado lá na frente e com o baricentro lá em cima… Você conserta a instabilidade dinâmica do carro como um todo, gerada por essa receita desfavorável, com a eletrônica (ESP). Ok, nada contra. Tem mesmo que consertar. Mas que é muito mais refinado quando um fabricante se preocupa com a “mecânica”, estudando distribuição de massa entre os eixos, antes da “eletrônica”, eu acho que é. Restam poucos, inclusive.
Carros que tragam boa distância entre a caixa de roda e o gap da porta costumam exibir todos esses dotes construtivos. Eu gosto. O Opala é a exceção que confirma a regra. A distância é grande. O desenho é bonito. Mas a eficiência… nossa… esquece…
O plástico que me irrita
Outra coisa que me aborrece e é comunizada pela proliferação de suves: os para-lamas com acabamentos plásticos. Fiz outro mosaico só para ilustrar (veja abaixo). Na fileira de baixo, temos suves revestidos com o plástico, que funciona como um adereço “aventureiro”. O discurso dos fabricantes é esse. Na real, entretanto, usa-se esse recurso porque é mais barato emoldurar a caixa de roda com esse plástico do que investir na ferramenta de estamparia do para-lama, fazendo o acabamento de aço dobrado para dentro. Nas imagens de cima, vemos os respectivos “carros de passeio” da mesma família.
Acabamento plástico nas caixas de roda: cada vez mais presentes!
Fiat Argo, VW Polo e Toyota Corolla (os três de cima) possuem molduras esculturais, com saliências em alto ou baixo relevo, o que, na minha opinião, aprimoram o acabamento da carroceria. Dão um ar mais chique. Já os três modelos de baixo (Fiat Fastback, VW Nivus e Toyota Corolla Cross) são isso aí que você está vendo.
Bendita coluna C
Outra implicância é com automóveis que tenham a coluna C com recortes. Sou fã confesso da “filosofia” do VW Golf, que tem na largura dessa peça seu DNA histórico. Acho que a coluna C “limpa” dá impressão de robustez e enaltece a carroceria como um todo. Nos três carros da fileira de cima (Compass, Kicks e Corolla Cross), tenho a sensação de que “soldaram um boné” à carroceria. Já nos três de baixo (Tiguan, Tracker e X1) vejo elegância, unidade estética – e solidez.
Coluna C: com ou sem recortes?
Eu ia ainda chamar mais um tema: os recortes criados pelo desenho do capô dianteiro, mas vistos de lado. Mas aí já é assunto pra uma próxima coluna, senão o texto ficaria extenso demais: deixo só dois exemplos positivos (Honda Civic e Nissan Sentra, à esquerda) e dois “nem tão bonitos”: Hyundai HB20S e CAOA Chery Arrizo6. Nesses últimos dois… não parece que o designer finalizou com a régua?
Em uma próxima coluna o assunto será o recorte dos capôs, vistos de lado! Aguardem.