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COMO MANDA A TRADIÇÃO
Ford 1932 é transformado em legítimo hot rod Hi-Boy: motor V8 302 forte para as retas, acabamento gringo e estilo de sobra
Quem leu a matéria de capa da FULLPOWER 119 conheceu um pouco da história dos Ford Mustang e Chevrolet Camaro, muscle cars responsáveis por mudar o mercado de automóveis dos Estados Unidos na década de 1960. Mas, antes destes dois ícones ganharem as largas avenidas e highways da terra do Tio Sam, um tipo de veículo já fazia a cabeça de muitos norte-americanos desde meados da década de 1930: os hot rod.
Desenvolvido por aficionados por velocidade, um hot rod tem conceito relativamente simples: instalar em um chassi antigo o maior e mais potente V8 possível em sua dianteira, além de retirar partes “desnecessárias” da carroceria do veículo para reduzir peso. Simples assim. Tudo para, na época, realizar competições ilegais de 1/4 de milha (402m) em rodovias e nos desertos de sal nos Estados Unidos.
Os Hot Rod viraram uma febre e este tipo de veículo (bem como as competições ilegais) cresceu tanto que, em 1937, foi fundada a SCTA (Southern California Timing Association, ou Associação de Tempos do Sudeste da California), para aprimorar e legalizar as competições que posteriormente se transformariam nas tradicionais provas de Arrancada.
O tempo passou, mas o apelo totalmente “bad boy” deste tipo de automóvel ficou marcado na imaginação de milhares de pessoas por várias gerações. É o caso de Marcos Balsamão, proprietário deste Ford 32 Hi-Boy. Embora seja fiel à tradição, o hot rod de Balsamão leva uma pitada de modernidade em sua receita, além de muitos detalhes para deixar sua aparência impecável.
Restaurado e preparado pela Street-1, este Ford levou cerca de um ano para ficar pronto — afinal, trabalhos como esse são artesanais. No decorrer do processo, o modelo recebeu uma enorme lista de componentes “premium”. O motor V8 302” (5.0), por exemplo, é alimentado por um carburador quadrijet Holley de 650 cfm, montado em um coletor Edelbrock.
O comando de válvulas é um Isky de 268o na admissão e escape, as polias foram feitas em alumínio, a parte elétrica utiliza todos os componentes da MSD, o escapamento 8×2 recebeu tratamento de cerâmica… A somatória de todos esses cuidados (e muitos outros), de acordo com Marcelo Pinhas, proprietário da preparadora, resultou na produção de 350 cavalos de potência!
*Motor V8 302 aplicado no Ford 32 é repleto de mimos. Toda a parte elétrica é controlada por componentes MSD, como módulo, distribuidor e cabos de vela. Novo radiador com ventilador incorporado é totalmente de alumínio, assim como as tampas de válvulas e o scoop do carburador. E a lista de itens especiais parece não acabar: todas as mangueiras são do tipo Aeroquip, escapamento tem banho cerâmico, alternador é cromado… O visual do conjunto condiz com o estilo da carroceria!
Mas, se você quer andar voando nas estradas ou pistas nos dias de hoje, procure um VW AP turbo, uma Ferrari, um Nissan GT-R e deixe este hot estacionado na frente de um dos melhores barzinhos da cidade. Embora acelere com vontade quando o pedal do acelerador é maltratado, tudo neste Ford 32 é extremamente refinado e bem cuidado em um nível acima do comum. Observe as fotos dessa matéria com atenção e confira a quantidade enorme de detalhes existentes em cada ângulo, soldas, parafusos, cores… Não há falhas! E o interior segue o mesmo padrão da área externa, com a tapeçaria perfeitamente encaixada, com direito até mesmo a moldura do painel de instrumentos feita à mão.
Hot Rod Ford 32 interior com tapeçaria perfeitamente encaixada, moldura de painel de instrumentos feita à mão, câmbio automático…
TÚNEL DO TEMPO
Ao entrar no Ford, a primeira sensação é estranha — leia “com ergonomia ruim”. As pernas ficam em posição um pouco cansativa, o cinto subabdominal não passa segurança, embora o volante esteja na distância ideal para meus 1,79 m. Ao ser ligado, o Hot dá uma saudação com um discreto (porém, grave e inconfundível) som de V8, convertendo gasolina em música de qualidade e risadas instantâneas.
Com o câmbio automático em “drive”, o modelo demanda diversas manobras para entrar na pista (o diâmetro de giro é enorme) e iniciar o passeio, mas necessita de poucos momentos para exibir suas virtudes. Vento e sol no rosto, diversos cheiros normalmente não sentidos, o som do motor no modo “surround”… A experiência é agradável. Ele faz o motorista se sentir “cool” e apoiar o braço esquerdo na porta instantaneamente para seguir com o lento desfile. Ao passar por um grupo de pessoas que parou a caminhada para observá-lo, o Ford 32 saudou-os com uma acelerada. Uma senhora que passava na rua fez cara de desagrado, mas tudo bem: o motorista já se sente um pouco “bad boy”. Essa é a sensação de dirigir um legítimo hot rod.
Embora a concepção deste Ford seja antiga, o modelo conta com freios modernos: discos ventilados na dianteira e tambor na traseira. Mesmo com certa hesitação no início da frenagem, o modelo perde velocidade rapidamente. A suspensão, surpreendentemente, oferece bom nível de conforto e estabilidade.
Segundo Marcelo Pinhas, proprietário da Street-1, um dos maiores destaques de um hot rod é a sua exclusividade. “Este estilo de carro dá satisfação pessoal, pois você não o adquire em qualquer lugar. Além disso, vira pescoços onde quer que passe”, explica Pinhas. Outro detalhe importante do automóvel é a sua ampla possibilidade de customização: é praticamente impossível um hot rod ficar igual a outro. Exclusividade e estilo são os números deste tipo de veículo.
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