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Porsche 911 1999 ganha kit original do GT1 e preparação forte no motor [TÚNEL DO TEMPO]
Da Redação / Fotos: Fábio Arantes
[Essa matéria foi publicada originalmente na FULLPOWER 79]
Sinônimo de esportividade e alta performance sobre quatro rodas, o nome Porsche faz sucesso nas ruas e pistas há décadas. Neste ano, a fábrica comemora 60 anos de atividade e ao longo desse tempo criou verdadeiras lendas. Um de seus ícones foi o Porsche 911 GT1, um bólido de competição projetado em 1995 para participar da classe GT1 das 24 Horas de Le Mans, em 1996. Para conseguir a homologação e ingressar na categoria, a Porsche foi obrigada a lançar uma versão de rua do esportivo — exigência do regulamento. Batizado de 911 GT1, o modelo faturou o campeonato de Le Mans de 1998, entrando, definitivamente, para a história vitoriosa da marca alemã.
Disposto a ter uma raridade dessas em sua garagem, um empresário paulista — que prefere ficar no anonimato — importou um kit gringo baseado no GT1 de rua, para ser adaptado em seu 996 Carrera 4, ano 1999. “O visual é bem agressivo, chama muito a atenção! É impossível rodar com este Porsche e passar despercebido. Nas ruas, é comum ver pessoas espantadas, apontando para o carro. O melhor de tudo é que, mesmo com todo esse visual ‘bombado’, o peso não foi alterado, pois o bodykit é todo em fibra de carbono. Assim como na versão de corrida, nada está ali só por enfeite”, conta o preparador Zelito de Freitas, da Power Plus.
Com seu Carrera 4 devidamente personalizado, o proprietário sentia que sua raridade merecia um motor mais forte do que a mecânica aspirada original: um 3.4, seis cilindros boxer, refrigerado a água e com 296 cv. Em uma preparação inicial, este motor recebeu um kit biturbo, mas o propulsor não agüentou as exigências de seu proprietário. Sedento por velocidade, ele derreteu o 3.4. Conhecida por preparar o Porsche recordista de velocidade do piloto de arrancada Alejandro Sanchez, a preparadora Power Plus, de São Paulo (SP), foi escolhida para a adaptação e preparação da nova mecânica — trata-se de um moderno motor, derivado do seu irmão mais novo, o 997 biturbo.
“Este boxer 3.6, também refrigerado a água, nada tem a ver com o motor antigo e exigiu muito trabalho de adaptação. O novo posicionamento dos coxins deixou o conjunto com altura diferente em relação ao propulsor anterior. Alinhar todo o sistema (motor/transmissão) me fez ganhar mais alguns fios de cabelo branco. Porém, o resultado ficou perfeito!”, comemora Zelito. Para chegar a uma cavalaria próxima à do modelo inspirador, o 911 GT1, o novo propulsor recebeu um upgrade de turbo e alimentação. A primeira mudança aconteceu no sistema de turbo. Além de dois intercoolers posicionados ao lado das lanternas traseiras, o GT1 ganhou um novo coletor de escapamento confeccionado em aço inox, pela paulistana Giba Escapes Especiais.
Os diminutos turbos KKK foram substituídos por dois superalimentadores Garrett, customizados especialmente para o carro pela Turbo Anhangüera Competições. “O Zelito queria um par de turbos que empurrasse bem em baixa e tivesse fôlego de sobra em altas rotações. Testamos mais de seis pares de configurações até chegarmos ao conjunto atual. Deu muito trabalho, mas valeu a pena, pois ficou exatamente como ele queria”, afirma Márcio Evangelista, da Turbo Anhanguera.
Outro item que exigiu muita dedicação do preparador foi o conjunto alimentação e ignição. Zelito adotou um sistema completo da FuelTech, com módulo de injeção RacePro1Fi e ignição FirePro e Spark Pro 6. De acordo com o técnico Heraldo Bueno, da FuelTech, o grande desafio foi controlar o sistema denominado Vario-Cam (sincronismo variável de comando), da Porsche. “Diferente da maioria dos comandos variáveis, ele é extremamente flexível e mais poderoso do que seus antecessores. Trabalha em todas as faixas de rotação, ao contrário de grande parte dos sistemas, que só alteram a abertura de válvulas em altas rotações. Fazer a FuelTech se comunicar com este equipamento exigiu o desenvolvimento de um software exclusivo”, explica Heraldo.
Rodando com apenas 0,8 kg de pressão de turbo, foram atingidos 471,5 cv nas rodas a 5.224 rpm, com um torque de 71 kgfm a 5.061 rpm, medidos no dinamômetro de rolo da Sapinho Câmbios, em São Paulo — considerando as perdas de transmissão, no motor a potência chega perto dos 588 cv. Nada mal para um carro com tração nas quatro rodas e pressão de turbo abaixo de 1 kg!
“Mantivemos os injetores originais rodando com gasolina. Por esse motivo, a cavalaria ficou limitada.
Na segunda fase da preparação, planejamos aumentar a capacidade dos bicos injetores e das bombas de combustível. Como as bielas e os pistões são originais, não dá para abusar na pressão de turbo, então eles serão substituídos por componentes forjados. Após essas alterações, será possível subir a pressão sem o risco de quebras e ainda chegar fácil na casa dos 800 cavalos”, diz Zelito.
Quando fui convidado pelo preparador para dar uma voltinha com essa maravilha, fiquei impressionado. O poder da cavalaria proporciona uma sensação alucinante! Na arrancada, o bólido urbano dispara com violência, jogando o corpo contra o banco, imediatamente. Primeira marcha engatada e a 3.000 rpm o turbo já enche e você literalmente cola no assento até o corte de giro, programado para as 7.000 rpm. Segunda, terceira e quarta marchas são engolidas rapidamente e o corpo continua colado — totalmente imóvel devido à aceleração e à emoção.
Ouço os pneus traseiros destracionando levemente e sinto o esportivo ser lançado para a frente com violência. O velocímetro já ultrapassava as 125 milhas por hora (200 km/h) e o Porsche ainda rodava forte e totalmente na mão, sem desvio de trajetória — e nem susto! Ainda restavam duas marchas a serem engatadas, mas lamentavelmente a pista chegou ao fim! Esta emoção é proporcionada pelo sistema de tração nas quatro rodas, distribuído em 20% para as rodas dianteiras e os outros 80% para as traseiras. Equipado com rodas forjadas Kinesis Motorsports aro 19”, com tala de 8,5” na dianteira e 12” na traseira, e pneus Pirelli P Zero 245/35 e Eagle F1 325/30, respectivamente, o GT1 contorna as curvas de forma impecável, praticamente colado no chão. A sensação é de estar acelerando sobre trilhos! Se você cruzar com essa raridade pelas ruas de São Paulo, pode ter certeza de que o visual agressivo vai além de uma simples perfumaria. Esse Porsche acelera forte e não está para brincadeira!
FICHA TÉCNICA
Motor: Seis cilindros boxer, bloco e cabeçotes de alumínio
Potência: 471,5 cv com 0,8 kg, medidos nas rodas em dinamômetro de rolo Dynomet
Dimensões (mm): Diâmetro de 96 mm, curso de 82.8 mm (3.596 cm3)
Bielas: Originais
Pistões: Originais
Comandos: Originais
Cabeçote: Quatro válvulas por cilindro, DOHC
Escape: Coletor tubular em aço inox Giba Escapes Especiais, escape de 3”
Turbo: Dois Garrett by Turbo Anhangüera, eixo 52 mm e rotor 56 mm, caracol quente .36, tampa fria .50
Alimentação: Injeção eletrônica FuelTech RacePro1Fi, duas bombas de combustível Bosch 044
Ignição: FuelTech FirePro e Spark Pro 6
Taxa/combustível: 11,3:1 / Gasolina
Câmbio: Manual de seis marchas
Embreagem: Platô recalibrado pela Displatec com disco de seis pastilhas de composto cerâmico
Amortecedores: Fixos a gás
Molas: Originais
Freios: Discos ventilados de 318 mm na dianteira e 299 mm na traseira, pinças de quatro pistões
Rodas: Kinesis Motorsports 19”x8,5” na dianteira e 19”x12” na traseira
Pneus: Pirelli P Zero 245/35 na dianteira e Eagle F1 325/30 na traseira
Instrumentos: Originais
Outras modificações: Intercooler Power Plus, bodykit 911 GT1, duas wastegate TiAL, Blow-off TiAL, boost controler HKS, filtros de ar K&N
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